Na Índia milenar, yogis shivaístas de algumas linhagens, têm na austeridade o objetivo de obter poderes místicos, como levitar, ficar invisível, conquistar força para mover estrelas e mundos, ficar do tamanho de um átomo, caminhar sobre as águas, em fim, conquistar os elementos materiais, como a água, o fogo, o ar e a terra. Existe uma obra shivaísta, denominada de “Damar Tantra”, que pertence aos tantras menores, onde se faz menção ao ato de beber a própria urina como uma prova de demonstração de adoração a Shiva, e, assim, dele receber bênçãos com poderes místicos (“sidhis“).
Constituído de 107 versos, o “Damar Tantra“, na parte correspondente ao “Anushtup shnadas”, fala-se que, na medida em que se bebe a própria urina - austeridade denominada de “Shivambu-kalpa” -, vai-se adquirindo poderes místicos, poder e força física e espiritual. Entre as práticas do renunciante, encontram-se também menções ao ato de comer as próprias fezes.
Apesar de tudo, é aconselhado a mistura de certas ervas, num chá, para que se dilua a concentração das toxinas da urina. Cada um destes chás, afirma-se desenvolver determinados poderes místicos, como a força de milhares de elefantes, por exemplo, e a potência sexual descomunal.
O “Damar Tantra” explica que ao beber-se a urina, por um ano, adquire-se “o brilho irradiante igual ao do Sol”, conquistando por final o elemento terra, depois a água, o ar etc. Estas e outras chamadas austeridades yóguicas shivaístas, constituem-se prática freqüente por entre estes místicos, que não querem outra coisa, senão adquirir estes poderes místicos para poderem impressionar os outros e assim assemelharam-se a Shiva. Entretanto, outros yogis não shivaístas, afirmam que não há nada muito especial nestes “poderes místicos”, até porque são de origem puramente material, e o asceta acaba iludido pelos modos da natureza passageira; defendem que Yoga, quer dizer liberação - “moksha” -, através da união com o Supremo, e não dependência dos modos da natureza.
A nomenclatura védica coloca três tipos de conhecimento e modo de vida material: o primeiro, mais primitivo, denomina-se de Tamo-guna, ou modo da inércia, ou da ignorância. O segundo de Rajo-guna, ou modo da paixão e da ação. O terceiro modo da natureza é o Satwo-guna, ou modo da bondade, do equilíbrio. No primeiro modo, tamo-guna, a pessoa pratica austeridades como cortar as próprias partes do corpo, às vezes come-as, bebe sua urina, também come suas próprias fezes, adora fantasmas, faz sacrifícios de animais, e sua associação é com os crematórios, cobrindo-se geralmente com as cinzas que restaram dos mortos queimados no fogo crematório. Na Índia, é muito comum vermos estes indivíduos rondando os crematórios, alguns com um crânio humano onde bebem líquidos e fazem suas refeições. No modo da paixão, as pessoas tentam realizar-se “espiritualmente”, com a prática sexual, tudo é de tal forma preparado para desenvolver a potência sexual e a permanência o máximo possível em conúbio carnal, ou então se dedicam a esforços sobre-humanos em atividades físicas desgastantes. Muito tântricos da linhagem da chamada “esquerda”, misturam algumas técnicas do modo tamo-guna com rajo-guna com o objetivo de adquirem maior e melhor potência sexual e assim desenvolver o poder para controlar e dominar os outros. A técnica do Shivambu Kalpa promete isso, de modo que eventualmente alguns yogis da corrente rajo-guna a utilizam. Por último, por estarem convictos que estas peripécias são mundanas, uma vez que se resumem em técnicas de busca pelo controle material, os satwo-gunas, que pretendem desenvolver o modo da bondade, praticam um técnica de yoga distante das pregações shivaístas. São praticantes de bhakti-yoga, raja-yoga, e outros métodos que não visam desenvolver senão o amor puro pelo supremo (krishna-prema), abstendo-se de comer carnes, tomar bebidas alcoólicas e realizar sacrifícios, preferindo seguir os ensinamentos de Dhanwantari com relação à saúde, uma encarnação de um avatar celestial como médico, que proferiu Ayurveda original aos rishis (sábios).
No Ayurveda fala-se eventualmente no uso de autonosódios ou de bioterápicos, ou seja, do uso de substâncias do próprio corpo, devidamente diluídas, para o emprego do tipo “homeopático” destas substâncias, que na realidade assemelha-se ao uso de vacinas e de soro. Isso, como sabemos, é prática farmacêutica eficiente, mas devidamente elaborada por processos de purificação dos elementos tóxicos, que saem com a urina, como alguns catabólitos potencialmente deletérios como o ácido úrico e a uréia.
No Madanapala nighantu, capítulo paniyadivarga, correspondente às bebidas da farmacopéia ayurvédica, encontramos o verso VIII, 222, que faz referência ao uso da urina humana como um importante agente rejuvenescedor, mas venenoso, devendo ser usada com cuidado e sempre diluída com chás de ervas. O uso externo é indicado para remover parasitas, desde quea urina seja de mulheres – preferencialmente –, ou então de fêmeas de animais, como a do camelo, búfalo, cavalo ou a do elefante, etc., sendo que o urina da búfala é considerada mais eficaz. As fêmeas, são selecionadas de preferência, porque quando ficam grávidas, produzem substâncias que os machos normalmente não excretam na urina (como a gonadatrofina coriônica, por exemplo). Contudo, o uso da urina pura, internamente, sem nenhuma diluição, ou até mesmo sem nenhum controle prévio da dieta, constitui-se num agravante de desequilíbrio dos doshas (energia interna), principalmente por atuar negativamente nos chamados srotas, condutos naturais da energia e dos produtos de secreção do corpo, promovendo doenças e infecções graves. A matéria médica ayurveda possui um embasamento muito próximo aos que são feitos pelos critérios científicos da atualidade, não sendo incomum suas fórmulas milenares estarem atuando até hoje, como o uso da digoxina, por exemplo, no tratamento de doenças cardíacas, logo não há menção sobre o uso da própria urina, com bebida diária, como técnica preventiva de qualquer doença que seja. O uso da urina de um diabético, que expele muito açúcar por não conseguir metabolizá-lo corretamente, fatalmente será danoso, agravando ainda mais a condição patológica em que se encontra. Uma dieta adequada é a preferência, além do uso de determinados produtos da flora, como ervas, raízes e cascas de árvores, são empregados como coadjuvantes importantes, nunca a própria urina, até porque ela deverá expelir as toxinas mórbidas da condição enfermiça. Entretudo, o uso da urina como provedor de diagnóstico é ampla e intensamente utilizado na técnica do Ayurveda. De fato, a origem dos atuais exames de urina utilizados no Ocidente remontam a antigüidade milenar do Ayurveda, onde a cor, o aroma, a textura, e o modo como a urina se comporta diante de determinadas substâncias, pode diagnosticar e prognosticar todas as moléstias.
Por fim, devemos lembrar que a medicina ayurvédica não se resume numa prática empírica pura, seus conhecimentos não foram resultados de inumeráveis experiências, no método tradicional de tentativa e do erro da empiria sistemática. Mais do que isso, é um sistema revelado, fruto de um trabalho espiritual na compreensão dos sábios no início da era de Kali, mais ou menos 7.000 anos atrás. Este dado é importante, até porque, na medida em que nos aprofundamos no estudo dos textos médicos originais do Ayurveda, uma parte do Attharva-veda (um dos quatro Vedas originais), ficamos mais e mais estupefatos com os conhecimentos reveladores que ali se encontram, dando precisão milimétrica sobre intervenções cirúrgicas no cérebro, por exemplo, que somente hoje esboçamos a possibilidade de atingir a técnica ali descrita, quando, no entanto, já era praticada na milenar Índia dos mistérios eternos.Não há medicina mais natural e comedida do que o Ayurveda, apesar de hoje existirem muitos falsos médicos ayurvédicos que tentam fazer dos seus ensinamentos panacéias universais, quando no entanto, em nenhuma vez se fala disso nos textos originais, uma vez que o propósito do Ayurveda é ensinar a ciência da saúde e não da doença, mostrando que os princípios naturais da existência são suficientes para equilibrar a saúde e manter a vida longamente, apesar das contingências do sofrimento material. Segundo o Ayurveda, a urina não passa de um produto excretado pelo organismo, importante para diagnosticar a situação energética da pessoa, e seu uso interno é perigoso e tóxico se não for devidamente processado e elaborado com finalidades terapêuticas.
Referências Bibliográficas:
Damar Tantra - shivambu-kalpa.
The Indian version. Part 3. HPS, USA, 1995.
BHAGWAN DASH. Vaidya. Materia Medica of Ayurveda, based on Madanapala’s Nighantu.
New Delhi, B. Jain Pub., 1991.
Texto do Prof. Olavo Desimon
Constituído de 107 versos, o “Damar Tantra“, na parte correspondente ao “Anushtup shnadas”, fala-se que, na medida em que se bebe a própria urina - austeridade denominada de “Shivambu-kalpa” -, vai-se adquirindo poderes místicos, poder e força física e espiritual. Entre as práticas do renunciante, encontram-se também menções ao ato de comer as próprias fezes.
Apesar de tudo, é aconselhado a mistura de certas ervas, num chá, para que se dilua a concentração das toxinas da urina. Cada um destes chás, afirma-se desenvolver determinados poderes místicos, como a força de milhares de elefantes, por exemplo, e a potência sexual descomunal.
O “Damar Tantra” explica que ao beber-se a urina, por um ano, adquire-se “o brilho irradiante igual ao do Sol”, conquistando por final o elemento terra, depois a água, o ar etc. Estas e outras chamadas austeridades yóguicas shivaístas, constituem-se prática freqüente por entre estes místicos, que não querem outra coisa, senão adquirir estes poderes místicos para poderem impressionar os outros e assim assemelharam-se a Shiva. Entretanto, outros yogis não shivaístas, afirmam que não há nada muito especial nestes “poderes místicos”, até porque são de origem puramente material, e o asceta acaba iludido pelos modos da natureza passageira; defendem que Yoga, quer dizer liberação - “moksha” -, através da união com o Supremo, e não dependência dos modos da natureza.
A nomenclatura védica coloca três tipos de conhecimento e modo de vida material: o primeiro, mais primitivo, denomina-se de Tamo-guna, ou modo da inércia, ou da ignorância. O segundo de Rajo-guna, ou modo da paixão e da ação. O terceiro modo da natureza é o Satwo-guna, ou modo da bondade, do equilíbrio. No primeiro modo, tamo-guna, a pessoa pratica austeridades como cortar as próprias partes do corpo, às vezes come-as, bebe sua urina, também come suas próprias fezes, adora fantasmas, faz sacrifícios de animais, e sua associação é com os crematórios, cobrindo-se geralmente com as cinzas que restaram dos mortos queimados no fogo crematório. Na Índia, é muito comum vermos estes indivíduos rondando os crematórios, alguns com um crânio humano onde bebem líquidos e fazem suas refeições. No modo da paixão, as pessoas tentam realizar-se “espiritualmente”, com a prática sexual, tudo é de tal forma preparado para desenvolver a potência sexual e a permanência o máximo possível em conúbio carnal, ou então se dedicam a esforços sobre-humanos em atividades físicas desgastantes. Muito tântricos da linhagem da chamada “esquerda”, misturam algumas técnicas do modo tamo-guna com rajo-guna com o objetivo de adquirem maior e melhor potência sexual e assim desenvolver o poder para controlar e dominar os outros. A técnica do Shivambu Kalpa promete isso, de modo que eventualmente alguns yogis da corrente rajo-guna a utilizam. Por último, por estarem convictos que estas peripécias são mundanas, uma vez que se resumem em técnicas de busca pelo controle material, os satwo-gunas, que pretendem desenvolver o modo da bondade, praticam um técnica de yoga distante das pregações shivaístas. São praticantes de bhakti-yoga, raja-yoga, e outros métodos que não visam desenvolver senão o amor puro pelo supremo (krishna-prema), abstendo-se de comer carnes, tomar bebidas alcoólicas e realizar sacrifícios, preferindo seguir os ensinamentos de Dhanwantari com relação à saúde, uma encarnação de um avatar celestial como médico, que proferiu Ayurveda original aos rishis (sábios).
No Ayurveda fala-se eventualmente no uso de autonosódios ou de bioterápicos, ou seja, do uso de substâncias do próprio corpo, devidamente diluídas, para o emprego do tipo “homeopático” destas substâncias, que na realidade assemelha-se ao uso de vacinas e de soro. Isso, como sabemos, é prática farmacêutica eficiente, mas devidamente elaborada por processos de purificação dos elementos tóxicos, que saem com a urina, como alguns catabólitos potencialmente deletérios como o ácido úrico e a uréia.
No Madanapala nighantu, capítulo paniyadivarga, correspondente às bebidas da farmacopéia ayurvédica, encontramos o verso VIII, 222, que faz referência ao uso da urina humana como um importante agente rejuvenescedor, mas venenoso, devendo ser usada com cuidado e sempre diluída com chás de ervas. O uso externo é indicado para remover parasitas, desde quea urina seja de mulheres – preferencialmente –, ou então de fêmeas de animais, como a do camelo, búfalo, cavalo ou a do elefante, etc., sendo que o urina da búfala é considerada mais eficaz. As fêmeas, são selecionadas de preferência, porque quando ficam grávidas, produzem substâncias que os machos normalmente não excretam na urina (como a gonadatrofina coriônica, por exemplo). Contudo, o uso da urina pura, internamente, sem nenhuma diluição, ou até mesmo sem nenhum controle prévio da dieta, constitui-se num agravante de desequilíbrio dos doshas (energia interna), principalmente por atuar negativamente nos chamados srotas, condutos naturais da energia e dos produtos de secreção do corpo, promovendo doenças e infecções graves. A matéria médica ayurveda possui um embasamento muito próximo aos que são feitos pelos critérios científicos da atualidade, não sendo incomum suas fórmulas milenares estarem atuando até hoje, como o uso da digoxina, por exemplo, no tratamento de doenças cardíacas, logo não há menção sobre o uso da própria urina, com bebida diária, como técnica preventiva de qualquer doença que seja. O uso da urina de um diabético, que expele muito açúcar por não conseguir metabolizá-lo corretamente, fatalmente será danoso, agravando ainda mais a condição patológica em que se encontra. Uma dieta adequada é a preferência, além do uso de determinados produtos da flora, como ervas, raízes e cascas de árvores, são empregados como coadjuvantes importantes, nunca a própria urina, até porque ela deverá expelir as toxinas mórbidas da condição enfermiça. Entretudo, o uso da urina como provedor de diagnóstico é ampla e intensamente utilizado na técnica do Ayurveda. De fato, a origem dos atuais exames de urina utilizados no Ocidente remontam a antigüidade milenar do Ayurveda, onde a cor, o aroma, a textura, e o modo como a urina se comporta diante de determinadas substâncias, pode diagnosticar e prognosticar todas as moléstias.
Por fim, devemos lembrar que a medicina ayurvédica não se resume numa prática empírica pura, seus conhecimentos não foram resultados de inumeráveis experiências, no método tradicional de tentativa e do erro da empiria sistemática. Mais do que isso, é um sistema revelado, fruto de um trabalho espiritual na compreensão dos sábios no início da era de Kali, mais ou menos 7.000 anos atrás. Este dado é importante, até porque, na medida em que nos aprofundamos no estudo dos textos médicos originais do Ayurveda, uma parte do Attharva-veda (um dos quatro Vedas originais), ficamos mais e mais estupefatos com os conhecimentos reveladores que ali se encontram, dando precisão milimétrica sobre intervenções cirúrgicas no cérebro, por exemplo, que somente hoje esboçamos a possibilidade de atingir a técnica ali descrita, quando, no entanto, já era praticada na milenar Índia dos mistérios eternos.Não há medicina mais natural e comedida do que o Ayurveda, apesar de hoje existirem muitos falsos médicos ayurvédicos que tentam fazer dos seus ensinamentos panacéias universais, quando no entanto, em nenhuma vez se fala disso nos textos originais, uma vez que o propósito do Ayurveda é ensinar a ciência da saúde e não da doença, mostrando que os princípios naturais da existência são suficientes para equilibrar a saúde e manter a vida longamente, apesar das contingências do sofrimento material. Segundo o Ayurveda, a urina não passa de um produto excretado pelo organismo, importante para diagnosticar a situação energética da pessoa, e seu uso interno é perigoso e tóxico se não for devidamente processado e elaborado com finalidades terapêuticas.
Referências Bibliográficas:
Damar Tantra - shivambu-kalpa.
The Indian version. Part 3. HPS, USA, 1995.
BHAGWAN DASH. Vaidya. Materia Medica of Ayurveda, based on Madanapala’s Nighantu.
New Delhi, B. Jain Pub., 1991.
Texto do Prof. Olavo Desimon