Wednesday, February 14, 2007

Shivambu Kalpa Vidhi

Na Índia milenar, yogis shivaístas de algumas linhagens, têm na austeridade o objetivo de obter poderes místicos, como levitar, ficar invisível, conquistar força para mover estrelas e mundos, ficar do tamanho de um átomo, caminhar sobre as águas, em fim, conquistar os elementos materiais, como a água, o fogo, o ar e a terra. Existe uma obra shivaísta, denominada de “Damar Tantra”, que pertence aos tantras menores, onde se faz menção ao ato de beber a própria urina como uma prova de demonstração de adoração a Shiva, e, assim, dele receber bênçãos com poderes místicos (“sidhis“).
Constituído de 107 versos, o “Damar Tantra“, na parte correspondente ao “Anushtup shnadas”, fala-se que, na medida em que se bebe a própria urina - austeridade denominada de “Shivambu-kalpa” -, vai-se adquirindo poderes místicos, poder e força física e espiritual. Entre as práticas do renunciante, encontram-se também menções ao ato de comer as próprias fezes.
Apesar de tudo, é aconselhado a mistura de certas ervas, num chá, para que se dilua a concentração das toxinas da urina. Cada um destes chás, afirma-se desenvolver determinados poderes místicos, como a força de milhares de elefantes, por exemplo, e a potência sexual descomunal.
O “Damar Tantra” explica que ao beber-se a urina, por um ano, adquire-se “o brilho irradiante igual ao do Sol”, conquistando por final o elemento terra, depois a água, o ar etc. Estas e outras chamadas austeridades yóguicas shivaístas, constituem-se prática freqüente por entre estes místicos, que não querem outra coisa, senão adquirir estes poderes místicos para poderem impressionar os outros e assim assemelharam-se a Shiva. Entretanto, outros yogis não shivaístas, afirmam que não há nada muito especial nestes “poderes místicos”, até porque são de origem puramente material, e o asceta acaba iludido pelos modos da natureza passageira; defendem que Yoga, quer dizer liberação - “moksha” -, através da união com o Supremo, e não dependência dos modos da natureza.
A nomenclatura védica coloca três tipos de conhecimento e modo de vida material: o primeiro, mais primitivo, denomina-se de Tamo-guna, ou modo da inércia, ou da ignorância. O segundo de Rajo-guna, ou modo da paixão e da ação. O terceiro modo da natureza é o Satwo-guna, ou modo da bondade, do equilíbrio. No primeiro modo, tamo-guna, a pessoa pratica austeridades como cortar as próprias partes do corpo, às vezes come-as, bebe sua urina, também come suas próprias fezes, adora fantasmas, faz sacrifícios de animais, e sua associação é com os crematórios, cobrindo-se geralmente com as cinzas que restaram dos mortos queimados no fogo crematório. Na Índia, é muito comum vermos estes indivíduos rondando os crematórios, alguns com um crânio humano onde bebem líquidos e fazem suas refeições. No modo da paixão, as pessoas tentam realizar-se “espiritualmente”, com a prática sexual, tudo é de tal forma preparado para desenvolver a potência sexual e a permanência o máximo possível em conúbio carnal, ou então se dedicam a esforços sobre-humanos em atividades físicas desgastantes. Muito tântricos da linhagem da chamada “esquerda”, misturam algumas técnicas do modo tamo-guna com rajo-guna com o objetivo de adquirem maior e melhor potência sexual e assim desenvolver o poder para controlar e dominar os outros. A técnica do Shivambu Kalpa promete isso, de modo que eventualmente alguns yogis da corrente rajo-guna a utilizam. Por último, por estarem convictos que estas peripécias são mundanas, uma vez que se resumem em técnicas de busca pelo controle material, os satwo-gunas, que pretendem desenvolver o modo da bondade, praticam um técnica de yoga distante das pregações shivaístas. São praticantes de bhakti-yoga, raja-yoga, e outros métodos que não visam desenvolver senão o amor puro pelo supremo (krishna-prema), abstendo-se de comer carnes, tomar bebidas alcoólicas e realizar sacrifícios, preferindo seguir os ensinamentos de Dhanwantari com relação à saúde, uma encarnação de um avatar celestial como médico, que proferiu Ayurveda original aos rishis (sábios).
No Ayurveda fala-se eventualmente no uso de autonosódios ou de bioterápicos, ou seja, do uso de substâncias do próprio corpo, devidamente diluídas, para o emprego do tipo “homeopático” destas substâncias, que na realidade assemelha-se ao uso de vacinas e de soro. Isso, como sabemos, é prática farmacêutica eficiente, mas devidamente elaborada por processos de purificação dos elementos tóxicos, que saem com a urina, como alguns catabólitos potencialmente deletérios como o ácido úrico e a uréia.
No Madanapala nighantu, capítulo paniyadivarga, correspondente às bebidas da farmacopéia ayurvédica, encontramos o verso VIII, 222, que faz referência ao uso da urina humana como um importante agente rejuvenescedor, mas venenoso, devendo ser usada com cuidado e sempre diluída com chás de ervas. O uso externo é indicado para remover parasitas, desde quea urina seja de mulheres – preferencialmente –, ou então de fêmeas de animais, como a do camelo, búfalo, cavalo ou a do elefante, etc., sendo que o urina da búfala é considerada mais eficaz. As fêmeas, são selecionadas de preferência, porque quando ficam grávidas, produzem substâncias que os machos normalmente não excretam na urina (como a gonadatrofina coriônica, por exemplo). Contudo, o uso da urina pura, internamente, sem nenhuma diluição, ou até mesmo sem nenhum controle prévio da dieta, constitui-se num agravante de desequilíbrio dos doshas (energia interna), principalmente por atuar negativamente nos chamados srotas, condutos naturais da energia e dos produtos de secreção do corpo, promovendo doenças e infecções graves. A matéria médica ayurveda possui um embasamento muito próximo aos que são feitos pelos critérios científicos da atualidade, não sendo incomum suas fórmulas milenares estarem atuando até hoje, como o uso da digoxina, por exemplo, no tratamento de doenças cardíacas, logo não há menção sobre o uso da própria urina, com bebida diária, como técnica preventiva de qualquer doença que seja. O uso da urina de um diabético, que expele muito açúcar por não conseguir metabolizá-lo corretamente, fatalmente será danoso, agravando ainda mais a condição patológica em que se encontra. Uma dieta adequada é a preferência, além do uso de determinados produtos da flora, como ervas, raízes e cascas de árvores, são empregados como coadjuvantes importantes, nunca a própria urina, até porque ela deverá expelir as toxinas mórbidas da condição enfermiça. Entretudo, o uso da urina como provedor de diagnóstico é ampla e intensamente utilizado na técnica do Ayurveda. De fato, a origem dos atuais exames de urina utilizados no Ocidente remontam a antigüidade milenar do Ayurveda, onde a cor, o aroma, a textura, e o modo como a urina se comporta diante de determinadas substâncias, pode diagnosticar e prognosticar todas as moléstias.
Por fim, devemos lembrar que a medicina ayurvédica não se resume numa prática empírica pura, seus conhecimentos não foram resultados de inumeráveis experiências, no método tradicional de tentativa e do erro da empiria sistemática. Mais do que isso, é um sistema revelado, fruto de um trabalho espiritual na compreensão dos sábios no início da era de Kali, mais ou menos 7.000 anos atrás. Este dado é importante, até porque, na medida em que nos aprofundamos no estudo dos textos médicos originais do Ayurveda, uma parte do Attharva-veda (um dos quatro Vedas originais), ficamos mais e mais estupefatos com os conhecimentos reveladores que ali se encontram, dando precisão milimétrica sobre intervenções cirúrgicas no cérebro, por exemplo, que somente hoje esboçamos a possibilidade de atingir a técnica ali descrita, quando, no entanto, já era praticada na milenar Índia dos mistérios eternos.Não há medicina mais natural e comedida do que o Ayurveda, apesar de hoje existirem muitos falsos médicos ayurvédicos que tentam fazer dos seus ensinamentos panacéias universais, quando no entanto, em nenhuma vez se fala disso nos textos originais, uma vez que o propósito do Ayurveda é ensinar a ciência da saúde e não da doença, mostrando que os princípios naturais da existência são suficientes para equilibrar a saúde e manter a vida longamente, apesar das contingências do sofrimento material. Segundo o Ayurveda, a urina não passa de um produto excretado pelo organismo, importante para diagnosticar a situação energética da pessoa, e seu uso interno é perigoso e tóxico se não for devidamente processado e elaborado com finalidades terapêuticas.

Referências Bibliográficas:

Damar Tantra - shivambu-kalpa.
The Indian version. Part 3. HPS, USA, 1995.
BHAGWAN DASH. Vaidya. Materia Medica of Ayurveda, based on Madanapala’s Nighantu.
New Delhi, B. Jain Pub., 1991.

Texto do Prof. Olavo Desimon

Urinoterapia?

Trata-se de terapia alternativa ou filosofia de vida que busca a harmonia do corpo, da mente e do espírito através da ingestão de urina. A prática remonta aos primórdios da história dos países orientais tendo se difundido também em culturas dos países do ocidente. Sua prática, asseveram os adeptos, previne e cura diversas doenças, existindo relatos de cura do câncer. Cientificamente a urina não é tóxica e se compõe de 90% de àgua e 10% de nutrientes não absolvidos pelo corpo e hormônios. A urina nada mais é do que sangue filtrado pelo fígado e rins, principalmente pelos rins que para os adeptos da urinoterapia é o órgão mais importante neste processo de filtragem do sangue. Muitos relatos levam a crer que a primeira urina excretada após uma noite de sono é a ideal para a ingestão, visto que carregada de hormônios benéficos para o organismo e para o cérebro, pois a reingestão dos hormônios excretados durante o sono são benéficos para o equilíbrio do cérebro e da memória. Relatos de ex-combatentes da segunda guerra mundial apontam para o poder cicatrizante da urina, isto se dá porque há grande concentração de cortisona, o que a torna antisséptica, bactericida e cicatrizante, sendo excelente também para tratamento de queimaduras. Os japoneses e indianos já conhecem a prática da urinoterapia a milênios, sendo que os primeiros a utilizam inclusive como cosmético, rejuvenescendo a pele com a aplicação de urina sobre a mesma. A maior eficácia da terapia depende também da alimentação, que requer ingestão de verduras, legumes e frutas, todos crús, e a ingestão de muita água. Para aqueles que se interessarem sobre a matéria, existem várias obras na literatura médica alternativa que exemplificam as diversas formas de utilização.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Urinoterapia

A urinoterapia entre os índios brasileiros

A auxiliar de enfermagem Alcilene Mota Sá da Silva fala de sua
experiência entre os índios do Pará.

Nasci no interior do Maranhão. Aos sete anos fui para Bragança, no Pará, e saí de lá com 16 anos. Passei toda a minha adolescência ao lado dos índios. Com eles aprendi muita coisa sobre remédios caseiros. Onde a gente morava, não havia médico, a gente vivia praticamente da natureza. Minha mãe criou oito filhos sem INPS. E todos saudáveis.
Os índios tinham muita amizade com meus pais. Traziam mandioca e muita caça - paca, veado, ave - para trocar por mercadoria no comércio do meu pai. Índio não mexia com dinheiro. Em troca, meu pai dava para eles coisas diferentes, da cidade. Meu pai ficou sendo uma pessoa muita respeitada por eles. Havia época que eles ficavam em fila na frente do comércio e meu pai atendia a todos eles. Então, tudo que meu pai falava: 'olha, tá acontecendo assim e assado", eles vinham e ensinavam: "faz isso que é bom". E nos ensinaram como usar a urina.
Quando havia alguém gripado, nos ensinaram a tomar urina em jejum - esse era nosso remédio normal. Gripou - não se precisava perguntar o que tomar. A gente sabia que índio pode sofrer qualquer tipo de doença - menos gripe. Porque a gripe neles leva à tuberculose no mesmo dia. Eles tinham muito medo. Se soubessem que alguém estava gripado, não se aproximavam. Tomavam muito cuidado. Qualquer espirro, eles tomavam urina e mandavam qualquer pessoa tomar urina. Para poder evitar, era dito: "quem toma urina quando está gripado, a doença não prossegue... ela já vai cortando'. Quando ficava com falta de ar, a criança tomava urina. Aí expectorava. Quando a criança tossia, o catarro soltava. Vinha aquele catarro amarelo pra fora e não acumulava.
Diziam que a penicilina, quando se está gripado, abafa o catarro no pulmão e acumula. No que acumula, vira tuberculose e complica tudo. Com a urina, não! Com ela se consegue expectorar e pôr para fora. Nos casos de diarréia, a criança, às vezes, botava poças de catarro pelas fezes. Aqui não se vê isso.
Contra caspa e ferida na cabeça, usávamos urina. Lá havia muitos pernilongos (carapanã) que picavam durante a noite, causando uma feridinha na raiz do cabelo. Como era muito quente - a temperatura lá é de 37o C quase sempre - ficava aquela coceira. Criava feridinhas que eram lavadas com urina. Nunca lavei o meu cabelo com xampu, só com sabão. E quando o cabelo ficava quebradiço, diziam: "O teu cabelo está quebradiço. Está na hora de lavar com urina!"
Quando tínhamos conjuntivite (dor d'olho), se saía pus e uma secreção do olho pingávamos urina. Contra terçol, usávamos também urina.
Éramos ensinados a tomar banho no rio. Eu nunca soube o que é uma torneira. Lá toda a meninada ia para o rio tomar banho de calcinha. Quando caía água no ouvido, a gente abaixava a calcinha, catava um pouco de urina e despejava quentinha no ouvido. Na hora, a gente sentia aquele burburinho, virava a cabeça e a água saía. A urina era o nosso remédio para ouvido - para secreção no ouvido, pus no ouvido...
Também para o nariz entupido dos filhos pequenos usavam urina. Como não existia conta-gotas, a mãe mesmo pingava a urina com a mão. Pingava urina no nariz e já conseguia que abrisse! Mais tarde, nos meus quatro filhos, o Rinosoro seria a urina.
A criança era ensinada a cuidar dos dentes, porque não havia dentista. Então a gente tinha muito cuidado. Quando começava a infeccionar, já lavava com urina, que também servia para lustrar. Fazíamos café (sem coar porque não tinha coador). Ficava aquela borra que não jogávamos fora, mas colocávamos numa vasilha e misturávamos com urina. Esfregávamos nos dentes, que ficavam brilhando! Se aparecia um quisto perto do dente - e ficava aquela bochecha inchada - a gente fazia bochechos com urina, bastante bochechos. No dia seguinte, o pus vazava perto do dente.
Havia muita impingem - uma coceira - porque havia muito bicho que pica. Para a impingem a urina era usada depois de uma semana, quando já estava com aquele cheiro forte. Aí se molhava um algodão e passava em cima. Isso dóóói!!! A urina velha queima demais... mas sara.
Eu passei muito tempo com uma alergia, uma coceira na nuca. Não sei se era o cabelo ou se eu suava muito. A pele ficou grossa, grossa mesmo. Minha mãe foi para a cidade onde ensinaram muito creme para ela. Mas ela nunca passou. Passamos sempre urina - qualquer infecção de pele, era sempre urina.
Feridas abertas, por exemplo na perna, também eram tratadas com urina. Trepávamos muito em árvores. Quando alguém caía e se machucava, a gente mandava logo um coleguinha mijar. Para nós era normal. Aqui não se pode fazer isso!
Nós não tomávamos antibiótico. Ensinavam que a penicilina é uma doença contra a humanidade, pior do que a doença a ser tratada. Na minha juventude não existia antibiótico. Na gravidez, quando a mãe começava a sentir dor, tomava um copo de urina para aumentar as contrações. Tomava um copo de urina quase quente, que acabava de fazer, e logo seguiam as contrações. O parto era normal, sem problema de hemorragia. Eu, durante a gravidez - apesar de ter saído de lá e morar na cidade - também tomei urina do começo ao fim e nunca tive qualquer problema.
Apesar disso, até pouco tempo, eu tinha muito medo de me abrir. Era difícil falar para minha vizinha: "Se você está com bronquite, toma urina que sara!"

Fonte: Entrevista concedida ao Dr. Masanami Kojima em São Paulo

Artigo extraído do livro: Conheça outras terapias, organizado por Hildegard Bromberg Richter (TAPs), Editora Paulus, São Paulo, 1998.